Os três primeiros anos da criança

Karl Konig

Andar ereto

todo o aparelho motor é uma unidade funcional quando uma parte do aparelho motor se move, a outra participa dele de forma a possibilitar esse movimento por meio do repouso ativo

  • 1º trimestre: domínio sobre os movimentos da cabeça e do pescoço.

  • 2º trimestre: braços e mãos se coordenam. movimento de agarrar. (sentar)

  • 3º trimestre: a criança 'descobre' as pernas e exercita o ficar em pé.

  • 4º trimestre: a criança tenta os primeiros passos.

olhar: primeiro ponto de apoio da relação entre a alma e o meio ambiente. separação entre o próprio corpo e o mundo: aparece primeiro no olhar.

  1. olhar

  2. pegar

  3. andar processo de conscientização, separação entre eu / mundo a criança não aprende a andar por controlar movimentos musculares isolados. ela controla os movimentos por um aclaramento de consciência no andar.

a criança demonstra durante os primeiros meses algumas capacidades rudimentares que acaba perdendo por volta do 5º mês, para readquiri-las corretamente a partir do 9º mês.

  1. motricidade herdada (inata)

    1. disposição para ficar em pé

    2. movimentos andantes reflexos

    3. fenômeno do engatinhar

  2. motricidade adquirida (aprendida)

    1. engatinhar

    2. erguer-se

    3. andar

é de grande importância que os movimentos inatos surjam nos primeiros meses e depois desapareçam, para ressurgirem metamorfoseados em movimentos aprendidos.

a conquista do andar ereto necessita do mesmo tempo em que a Terra dá uma volta ao redor do Sol.

MÊS

AQUISIÇÕES

fixação dos olhos.

começa a manter a cabeça ereta, também quando está de bruços.

de bruços, mantém os ombros e cabeça erguidos por algum tempo.

fica de bruços, apoiada com as mãos. olhar ativo. segura objetos. bate palmas.

de bruços, levanta cabeça e ombros. deita de lado. pega um objeto que vê.

senta-se com apoio. bate ritmicamente com um objeto (móvel) num mesmo ponto (fixo).

tenta alcançar objetos. muda de posição.

senta-se livremente. começa a engatinhar.

endireita-se para sentar. ajoelha-se. começa a ficar em pé quando apoiada.

10°

arremessa objetos.

11°

segurando-se, a criança consegue se colocarem pé.

12°

fica em pé livremente e, com um pouco de ajuda, dá os primeiros passos.

Língua materna

linguagem, palavras, gestos se baseiam no princípio racional do 'signo'. (≠ animais)

a linguagem aparece no ser humano: como expressão animalesca; como capacidade de denominação; como potência que busca encontrar si mesma.

os instrumentos da linguagem são o elemento decisivo para a forma do ser humano. os instrumentos da linguagem são a imagem central no organismo humano. devido ao organismo aéreo, falar e escutar são aptidões intimamente ligadas. o organismo da linguagem: repousa no sangue ouve no ouvido (guarda os nomes) trabalha na boca e no nariz o ponto central a laringe sua substância básica é o ar

os músculos se estendem à laringe. o falar é um ato de expressão motora. o sentido da linguagem está completamente dentro do sentido do movimento (linguagem de sinais).

a linguagem se inicia quando o ar penetra no corpo do recém-nascido pela primeira vez e com o primeiro grito que ele produz. durante o período embrionário, o organismo da linguagem repousa. primeiro falamos, depois pensamos o eu como individualidade atua sobre a linguagem não só no âmbito da consciência desperta em que se realiza o pensar, mas principalmente no âmbito da consciência onírica, da qual emana o falar. o falar só se torna consciente (eu - pensar) depois de ter se tornado algo falado (concluído).

  • LINGUAGEM

    1. OUVIR (lado passivo da linguagem - sensorial)

      1. o ouvir da linguagem - manifestação - ouço a mim mesmo

      2. o ouvir dos nomes - denominação - ouço os outros

    2. FALAR (lado ativo da linguagem - motor)

      1. eu falo a linguagem - manifestação - dizer eu próprio me expresso

      2. a linguagem fala por si - apresentação - denominar a linguagem age em seu próprio âmbito

      3. a linguagem me exprime - influência - conversar, argumentar constrói pontes em que posso alcançar outro eu

meses

etapa

descrição

0 a 3

gritar

variação de sons gritantes e gralhantes

3 a 13

balbuciar

é constituído de sílabas

13 a 18

dizer

40 a 70 palavras usadas como sentenças univocabulares

18 a 24

denominar

400 a 500 palavras usadas para nomear cada coisa

24 ou +

conversar

inicia-se a formação de sentenças

espernear: exercita o aparelho motor. balbuciar: treino do aparelho fonador.

diferentemente dos gritos, os balbucios têm mais caráter de linguagem embora não o sendo realmente. a palavra não se compõe de sons, mas de sílabas. a sílaba é o alicerce da estruturação vocabular.

a psicologia tentou em vão provar que o balbuciar varia culturalmente. em todo o mundo, os lactentes balbuciam da mesma forma. inclusive, crianças nascidas surdas apresentam o mesmo balbuciar. com a enorme quantidade de sílabas formadas, a criança pode aprender qualquer língua materna.

como numa paisagem pode soar o som de um animal ou a voz humana, assim a palavra falada soa ao lactente como algo existente nesta experiência global.

13 meses: inicia-se o falar. sentenças univocabulares: uma única palavra indica uma grande plenitude. a criança usa a linguagem para se expressar com sentenças de uma só palavra.

período

diferenciação de palavras

15 a 20 meses

substantivos

20 a 23 meses

substantivos e adjetivos

a partir dos 23 meses

substantivos, adjetivos e verbos

os primeiros passos correspondem às primeiras sentenças. podem ser desajeitados, mas podemos dizer: com um ano, a criança anda. com dois anos, a criança fala. impulso de relatar → acorda a linguagem → chega-se ao 'conversar' → surge a língua materna a partir dos 24 meses: a linguagem se desenvolve rapidamente, diferenciação de palavras. o lactente que balbuciava era cosmopolita. após conversar, ele se torna um cidadão.

dimensão

funcionamento

aparelho fonador

elementos

dizer

se desenrola de baixo para cima

embaixo, dos pulmões à laringe

sílabas

denominar

flui de cima para baixo

em cima, dos ouvidos à laringe

palavras

conversar

vive na corrente da respiração

no centro, laringe e boca

sentenças

Pensar

a linguagem traz aconchego e segurança para a criança. quando falta uma palavra ou parte da sentença a desagrada, ela sente uma decepção que pode beirar o desespero.

3 anos: da aquisição da linguagem mais ampla até o primeiro período de teimosia. a criança começa a ter consciência de si mesma.

  • PREMISSAS para o despertar o pensar:

    1. o aperfeiçoamento da linguagem

    2. representações de percepções e metamorfoses

    3. a aquisição da memória

    4. brincar - imitação dos adultos, vivificação da fantasia. brincando, a criança cria o mundo e, por ser sua criadora, consegue se distinguir da sua criação.

    5. noção de espaço (quanto menor a criança, maior é a relação que ela tem com o espaço)

    6. noção de tempo (primeiro o futuro e depois o passado)

há manifestações da criança que ainda não são a aquisição do pensar, mas de suas premissas. reconhecer e denominar objetos é uma manifestação da linguagem. identificar as imagens (representações) dos objetos é uma manifestação da memória.

ontem, hoje e amanhã vivem dentro da criança como um sentimento vago. pelo sentimento, ela sabe que algo foi e algo será, mas, como estrutura mental, isso só se desenvolve muito gradualmente.

atividades anímicas sensatas X verdadeiros atos mentais colmeias de abelhas X auto-compreensão e auto-consciência

cabeça

tronco

membros

esfera

lua

raios

substantivos

adjetivos

verbos

substantivos, verbos e adjetivos: são o protótipo de toda sentença e de toda manifestação de existência na Terra.

o pensar é relativamente consciente. o falar é mais ou menos inconsciente. não se fala tão conscientemente quanto se pensa. é nesta semiconsciência que se dá o aprendizado do falar infantil.

não é o pensar da criança, é a força plasmadora imanente à linguagem que se expressa. a linguagem infantil possui uma grande força plástica.

ao falar, a criança exercita a lógica da linguagem, que a levará à lógica individual do humano pensante.

lembrança localizada

lembrança rítmica

lembrança imaginativa

perceber

recordar

lembrar

construir monumentos

linguagem e canto

próprio passado

a vivência cronológica do passado forma a moldura da memória para a vivência da personalidade. quando o próprio passado começa a surgir, a criança começa a representar sua personalidade. já na criança menor, sua existência só relampeja no reconhecimento de coisas e situações.

memória

fantasia

antipatia

simpatia

reconhecer

querer

falar

brincar

quando a antipatia na representação é muito intensa, torna-se memória. quando a simpatia é muito intensa no querer, torna-se fantasia.

brincadeira e fantasia só existem em íntima relação. uma não existe sem a outra. a fantasia não cria algo do nada, tem que se basear em vivências reais. a criança só consegue conceber o meio ambiente como interpretação de sua fantasia.

memória: denominar - lembrar. na memória, a criança pode abstrair o mundo, como acontece na formação da palavra. o mundo se torna sua propriedade (dolorosa e abstrata).

como toda brincadeira, também a fantasia tem sua origem na motricidade da criança. do movimento e da agilidade, da constante necessidade de atividade é que a criança retira sua fantasia.

durante o terceiro ano de vida, há uma tripla conquista na criança:

cabeça

tórax

membros

lembrar

conversar

fantasiar

posse de representações

formação de sentenças

brincar

esta tripla aquisição é o preâmbulo necessário para que o pensar possa se manifestar.

pensar: identificar-se. tomar consciência de si. falar 'eu' para se autodesignar.

associação de idéias, algumas coisas são semelhantes, outras são diferentes. encadeamento de idéias, relações de superioridade e subordinação entre elas. 'se… então', 'porque, 'pois'... o que no início do terceiro ano estava na penumbra, começa a ter alguns pontos luminosos, que começam a ser interligar por uma variedade de relações, inundando o pensamento de luz.

agora não é a linguagem que se expressa; a vivência mental da criança começa a se servir da linguagem. movimentar e falar, que seguiam suas próprias leis, são dominados pelo considerar e pelo julgar. aos poucos, o pensamento se torna rei da alma.

o andar e o falar são aprendidos; evoluem gradualmente. o pensar aparece como uma luz que, apesar de não visível antes, deve ter sempre existido. o pensar existe na criança desde o início, mas não tem condições de se manifestar. nos dois primeiros anos de vida, a existência infantil está entretida com a corporalidade física.

a partir deste instante, inicia-se um fio da memória que possibilita a continuidade da autoconsciência. permanece a vaga sensação da unidade da própria pessoa até os três anos de idade. antes disso, porém, a primeira infância permanece envolta na obscuridade .

andar, falar e pensar são capacidades espirituais concedidas ao ser humano em sua vida pré-terrena.

o pensar dorme até ser despertado pela individualidade/personalidade.

tudo que tem um nome tem um eu. sabendo disso, o ser humano denomina a si mesmo, não como coisa ou ente, mas como aquele elemento mais íntimo de todo ser.

por volta dos 3 anos de idade, o eu superior morre e nasce o eu inferior, que acompanha o ser humano por toda a vida. e o resultado do nascimento do pensar é o período de teimosia que se segue. nessa fase, os comportamentos indicados são: ajuda e exemplo, conduta suave e perdão compreensivo.

antes dos 3 anos, a criança é um pequeno mundo autônomo, esperando do ambiente que tudo seja como lhe agrada. ela não é nem autoconsciente e nem egoísta. aos 3 anos, o ser humano se reconhece como parte do eu universal que, como logos, é a origem do devir.

Três sentidos superiores

1 a 2 anos: Como pode haver compreensão da palavra e entendimento do sentido antes da capacidade de pensar?

compreensão e entendimento do termo falado:

físico

psíquico

lógico

físico

anímico

espiritual

sinal físico aos ouvidos ou olhos

percepção da palavra

compreensão do pensamento

sentido da audição ou da visão

sentido da palavra

sentido do pensamento

mês

acontecimento

1

grito (independente)

2

zumbido (resposta induzida)

3

maior variedade de sons

4

começa a imitar sons e ruídos que ouve

6

ouvir e falar começam a agir como uma unidade

8 a 11

sussurro (a repetição consciente só se dá na combinação entre visão e movimento)

12

nascimento do sentido da linguagem

aquisição da postura ereta, individualização da palavra

12 a 18

a aquisição de novas palavras é escassa as palavras já conhecidas se tornam sua propriedade

a palavra não é entendida, mas lembrada

18

nascimento do sentido do pensamento o nome das coisas se torna vivência, ganha sentido

ÓRGÃO DO SENTIDO DA PALAVRA: sistema piramidal (ou trato corticoespinhal, ou trato piramidal, pyramidal tracts em inglês). é um grupo de axônios que vão do córtex cerebral à medula espinhal. o FALAR em si se concentra nos órgãos em torno da LARINGE (língua, faces, mandíbulas).

no fim do 1º ano, a criança progrediu para a compreensão da palavra, mas ainda não adquiriu o falar.

ANDAR ERETOSENTIDO DA LINGUAGEM → FALAR é pela aquisição do andar ereto que nasce o sentido da linguagem. e é por ele que se desenvolve o falar.

o movimento não executado, o gesto não manifesto é o que possibilita o entendimento da palavra. a intenção não executada, que, em vez de se movimentar, fica inerte, é a base do sentido da linguagem.

ressonância: ao cantar perto de um piano, ele ressoa suavemente. isso, porém, só acontece quando as cordas estão em repouso (não estão vibrando). da mesma forma, a palavra falada ressoa em mim quando refreio um movimento.

esse feixe de nervos é como um abafador, que não executa qualquer dos movimentos voluntários, e sim os retém, tornando-se por isso aquele instrumento no qual a palavra falada encontra seu eco, sua ressonância, da qual resulta o entendimento da palavra. ÓRGÃO DO SENTIDO DO PENSAMENTO: nervo vago < sistema nervoso parassimpático < sistema nervoso autônomo < sistema nervoso periférico < sistema nervoso

ÓRGÃO DO SENTIDO VITAL: sistema nervoso simpático. o conjunto do sistema nervoso está intimamente relacionado com o sentido vital.

os músculos da laringe são abastecidos por dois pares de nervos que se ramificam do tronco do nervo vago. o sentido do pensamento se forma baseado no desenvolvimento da linguagem (fala).

os processos vitais dos seres humanos são profundamente influenciados pela ação da linguagem.

as forças formativas que agem nos processos vivos são as mesmas que construíram todas as figuras vivas do mundo. quando se encontram com os sons e as palavras, abre-se o acesso para as ideias.

o órgão do sentido do pensamento é o âmbito das ideias criativas que prevalecem no organismo vivo. pode ser considerado um poderoso cérebro sem imagem fixa, em constante formação.

o nervo vago é uma ponte entre a vida (órgãos) e a morte (cérebro). assim as ideias contidas nas imagens verbais podem ser reconhecidas e vivenciadas pela consciência desperta. o nervo vago possui vívidas forças plasmadoras que atuam no organismo vital do ser humano e que possibilitam a compreensão de conceitos e idéias.

durante os 2 primeiros anos de vida, a criança está numa relação de simpatia com o mundo. ela é um ser entregue. ela adormece para o outro.

individualidade + pensar = consciência do próprio eu → primeiro período de teimosia o período de teimosia possibilita que o comportamento da criança, até agora tão 'simpático', passe a ser ambivalente, e que ela inclua traços extremamente antipáticos na configuração de suas vivências. é na contínua alternância entre simpatia e antipatia que pode se desenvolver o sentido do eu, que é o sentido para perceber o eu de outras pessoas.

pensar → consciência do eu → atitude antipática → sentido do eu ÓRGÃO DO SENTIDO DO EU: cabeça (glândula pineal e glândula pituitária) o sentido do eu começa a se desenvolver aos 3 anos e termina de se formar aos 9 anos de idade.

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