A configuração do destino no sono e na vigília

Rudolf Steiner

  1. O modo como o ser humano se insere na parte da ordem universal relacionada com seu próprio destino. Como ocorre a configuração do carma no ser humano?

  2. Vida do ser humano pode ser dividida entre dois estados de consciência: a vigília e o sono. Mas o sono não é um simples descansar. Do adormecer ao despertar, o corpo astral e o eu estão fora do corpo físico e do corpo etérico.

  3. O que eu e o corpo astral fazem no período entre o adormecer e o despertar é, no mínimo, tão importante para o ser humano quanto a vida diurna.

  4. O ser humano adentra a vida terrena dormindo. Dormir aqui engloba não só o período do sono visível, mas tudo o que é vivenciado nos primeiros anos de vida de que não é possível se recordar posteriormente com a consciência habitual.

  5. O que se desenvolve a partir desse estado de sono? Andar, falar e pensar. O que o ser humano trouxe de sua existência pré-terrena atua e agora se entretece à sua existência terrena.

  6. O andar compreende: erguer-se (verticalidade), movimento pendular, domínio do equilíbrio (interior), equilíbrio no mundo (exterior), alinhamento do centro de gravidade, diferenciação entre pernas e braços.

  7. Os animais usam seus membros de forma idêntica, já o ser humano os diferencia. Ele usa suas pernas para se equilibrar e se mover, enquanto os braços são meios de expressão para sua alma.

  8. O falar está vinculado ao andar e especialmente ao uso diferenciado das mãos. Em quem é destro, o falar se relaciona com o lóbulo temporal esquerdo do cébrebro. Em quem é canhoto, o centro da fala está localizado no lóbulo temporal direito.

  9. Para todos os que não nasceram mudos, o pensar é algo que se desenvolve a partir da fala.

  10. O corpo astral participa de modo intenso no aprendizado da fala. Ele leva consigo, durante o período do sono, o anímico-espiritual contido nas palavras e na linguagem.

  11. É possível observar como cada pessoa coloca em suas palavras a força da certeza de sua alma. O que falamos durante o dia, no tocante ao elemento anímico-espiritual, é conduzido para fora durante a noite, pelo corpo astral, e levado para dentro do mundo espiritual. São principalmente as nuances de sentimento inclusas no que foi dito que são levadas pelo corpo astral durante a noite.

  12. corpo astral → está ligado à região peitoral e do peito sai a fala eu → está ligado a tudo o que o ser humano executa com os membros Assim como o corpo astral retira o anímico de cada palavra, o eu está ligado a cada movimento que que o humano realiza com os seus membros desde o despertar até o adormecer.

  13. Não é apenas a ressonância do movimento das pernas e dos braços que o eu o retira de dentro do nosso corpo físico e etérico ao adormecer e o conduz ao mundo espiritual. É extraída também a satisfação ou insatisfação de cada movimento que os membros realizaram.

  14. O corpo astral está destinado a entrar em contato íntimo, durante esse tempo entre o adormecer e o despertar, com as entidades dos Arcanjos.

  15. Exatamente como nós dependemos do oxigênio, os Arcanjos sentem como necessidade o eco daquilo que está inserido na linguagem (que as almas humanas levam a eles quando adormecidas).

  16. Os Arcanjos são os guias das línguas dos povos pelo fato de verdadeiramente inalarem o que o ser humano leva da linguagem ao seu encontro quando adormece.

  17. Os seres humanos não desenvolvem mais o impulso interno pelo idealismo. As palavras assumem, cada vez mais, a denominação para coisas que existem no mundo físico.

  18. Até as pessoas que querem acreditar no espírito negam o espírito, porque só conseguem acreditar no espírito quando este consegue ser material. Espiritismo é a forma extrema do materialismo.

  19. Quando o ser humano não desenvolve idealismo em sua linguagem, enfraquece-se a conexão com o ser arcangélico. Então será difícil para o indivíduo se ligar ao mundo espiritual a ponto de poder se integrar à vida entre a morte e um novo nascimento.

  20. O ser humano enfraquece a si próprio quando sua linguagem não contém nenhum idealismo. Podemos observar que fica enfraquecido quem não consegue extrair do Arcanjo a força necessária. Precisamos nor esforçar fluir para dentro das palavras o espiritual sob forma de idealismo.

  21. O eu leva para os Arqueus a satisfação e a insatisfação a respeito do que os membros realizaram. Dos Arqueus, vem a força para fazer no corpo físico o que, na liberdade do pensar, nós nos propusemos como meta.

  22. Os Arqueus tem consciência total dos acontecimentos do que nós possuímos de forma inconsciente e desenvolvem-nos em pensamento explícito de satisfação ou de insatisfação. Só conseguiremos aplicar a liberdade em nossa vida se desenvolvermos o correto relacionamento com os Arqueus.

  23. O amor verdadeiro coloca o eu no contato correto com os Arqueus. A partir do que se apresenta como satisfação ou insatisfação surge o que tem validade para o período após a morte e para a próxima vida na Terra. No âmbito dos Arqueus, é moldado o destino, o carma.

  24. O corpo astral entrega a linguagem para que os Arcanjos a direcionem adequadamente. O eu tece o destino. Os Arqueus nos oferecem o necessário para o período entre a morte e um novo nascimento e para a próxima encarnação (no aprendizado do andar).

  25. No aprendizado do andar, é possível ver como repercute todo o modo como o eu, na encarnação anterior, por meio do amor universal, desenvolveu sua relação com os Arqueus. Uma criança pode cair muito quando está aprendendo a andar devido a ter desenvolvido sentimentos de ódio contra pessoas numa vida anterior. Um educador deve buscar equilibrar isso carmicamente.

  26. Aprender a andar é dominar o corpo físico e se estende até processos interiores, como o domínio sobre o sistema glandular. O temperamento da criança interfere no aprender a andar. E o predomínio destas ou daquelas emoções é tecido na vida anterior.

  27. idealismo → sono → corpo astral → Arcanjos / amor universal → sono → eu → Arqueus O amor universal possui verdadeiramente uma força criadora. Dependemos de algo puramente anímico para colocar nosso corpo físico a serviço da alma

  28. o elemento anímico de uma encarnação vive no físico da próxima vida terrestre o elemento espiritual de uma encarnação vive no anímico da próxima vida terrestre

  29. O ser humano tece o seu carma durante o sono, mas aquilo de que necessita para tecelagem ele armazena durante o período em que está desperto. Os fios são produzidos por meio do amor universal. O carma leva em conta principalmente o amor e o ódio humanos como forças criadoras.

  30. É um conceito teórico bem cômodo colocar de modo fatalista a culpa inteira no carma. Sempre existe carma surgindo.

  31. Se surge um infortúnio, o equilíbrio virá, ou pode ser que esse infortúnio seja uma compensação.

  32. Também devemos contar com o futuro ao falar de carma.

  33. A compensação existe. É necessário reconhecer a justiça universal. Tudo se equilibra.

  34. Quem deseja afastar os infortúnios, de certo modo, está dizendo: "Para mim é indiferente se eu continuo fraco ou se adquiro certa força!"

  35. Só entende um infortúnio quem diz: "Se é para compensar uma fraqueza antiga, é bom que ele me tenha atingido. Graças a isso eu extingo a fraqueza, volto a ser forte."

  36. Se o ser humano fosse atingido apenas por coisas que deseja para si, ele ficaria paralisado anímica e espiritualmente. Devemos nos colocar diante do mundo espiritual com uma disposição oriunda da contemplação da atividade do eu e do corpo astral fora da vida diurna.

  37. Se eu realmente observo uma pessoa falando, posso ver vibrando, dentro daquilo que se forma como palavra, o seu corpo astral. E encontro, unido a esse corpo astral, o parentesco do ser humano com o mundo espiritual.

  38. A ordem moral do universo é o fato de o ser humano viver, enquanto dorme, com a mesma intensidade com que vive quando desperto.

  39. Quando nós morremos, retiramos [e levamos conosco] o que os seres arcangélicos nos deram durante o sono para o mundo espiritual, que é o Logos, constituído de elementos cósmicos que têm seu reflexo nas palavras da linguagem.

  40. Quando encarnamos novamente, os Arcanjos já não conseguem ser mediadores. Os Exusiai e Kyriotetes introduzem a espiritualidade da linguagem que conquistamos com os Arcanjos nos impulsos e desejos do corpo físico. O que levamos do sono para dentro do corpo físico atua como voz da consciência. O que se manifesta nessa voz da consciência é o que é oferecido pelos Exusiai e Kyriotetes.

  41. Se o corpo físico de uma pessoa tem bons instintos e impulsos é porque, em consequência do idealismo de sua linguagem, os Kyriotetes e os Exusiai atuaram nela da maneira correta.

  42. Por meio do amor humano universal, entramos no relacionamento correto com os Arqueus, que se reflete no aprender a andar (bem no comecinho da vida, ainda estamos dormindo). Porém, para que o ser humano possa adquirir uma consciência clara em relação às suas próprias atitudes, é necessário que os Dynamis atuem junto com os Arqueus.

  43. Quando falta amor universal, o ser humano prejudica o seu carma para a próxima vida (Arqueus). Porém, para esta vida, ele também prejudica a sua relação com os Dynamis e obtém cada vez menos força para levar ao corpo físico a satisfação e a insatisfação com o que os membros realizam. São os Dynamis que levam para dentro do corpo físico a força que executa o correto.

  44. Livres nós podemos vir a ser no pensamento, mas a liberdade no corpo físico só se desenvolve a partir da relação com os Arqueus e com os Dynamis.

  45. Exusiai, Dynamis e Kyriotetes levam do sono para o corpo físico a força moral. Serafins, Querubins e Tronos, levam a força moral para o mundo exterior (força moral se torna força criadora universal).

  46. Se transmitimos aos Serafins, Querubins e Tronos forças destrutivas (por nos tornarmos cada vez mais fracos), estamos cooperando para a destruição da Terra, e não para a edificação de Júpiter.

  47. O sono existe para, sob os efeitos posteriores da vida física, entrarmos no relacionamento correto com o mundo espiritual.

  48. É para isto que o ser humano tem o sono: para que possa realmente buscar no mundo espiritual a força adequada para sua vida terrena.

  49. Não se trata de a vontade ser livre, é o pensamento que deve ser livre. Se quisermos a liberdade, o pensamento deve dominar o querer. Libertamos o anímico pela relação correta com os Arcanjos. Libertamos a vontade pela relação correta com os Arqueus.

  50. Durante o sono, o pensar ligado ao corpo etérico continua a acontecer. Só que nada se sabe a respeito de como o etérico pensa, pois o astral e o eu estão fora. força para a liberdade no anímico → o astral busca no mundo espiritual força para a liberdade na vontade → o eu busca no mundo espiritual pensamentos → ligados ao corpo etérico → ligados à vida terrena

  51. morte → corpo etérico sai → retrospectiva da vida passada durante um, dois ou três dias → depois, esses pensamentos são absorvido pelo Cosmo → o corpo etérico se dilata até se desmanchar no Cosmo → nós então somos acolhidos pelas hierarquias superiores como um eu e um corpo astral → somente quando tivermos novamente um corpo etérico é que poderemos adentrar a vida terrena O fato de corpo etérico permanecer unido ao corpo físico durante toda a vida terrena constitui a base para o pensar humano. É por isso que o corpo etérico se dissolve após a morte em mundos onde não se aprende a liberdade. A vida terrena tem como meta fazer do ser humano uma pessoa livre.

  52. O carma é tecido separadamente daquilo que, no ser humano, abriga a liberdade. O carma surge a partir do do anímico sonhador e da vontade adormecida. Para dentro dele, nós podemos verter aquilo que vive na liberdade dos pensamentos, nos impulsos éticos e morais.

  53. Para entender algo sobre a vida e o mundo, é preciso conectar o físico, o anímico e o espiritual.

  54. Perceber a disposição que o ser humano pode desenvolver em relação ao carma (justiça universal). Tudo depende das sensações que nós levamos para dentro da vida (e não da aceitação teórica).

    Procurem, cada vez mais, encontrar o caminho da Antroposofia da cabeça para o coração.

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