Andar, falar, pensar

Rudolf Steiner

O mais importante é aprender a ler a criança. Aprende-se, a cada momento, a responder de forma prática a uma pergunta de peso. A criança é, nos primeiros anos, um organismo totalmente sensorial. Na vida posterior, o ser humano experimenta o sabor do alimento com a boca, com o palato, com a língua. Na criança, isto não ocorre, especialmente nos três primeiros anos, quando o sabor atua através de todo o organismo. A criança saboreia até com os membros o leite materno e a primeira alimentação. O que em idade posterior ocorre na língua, na criança se processa em todo o organismo. Todo um universo, todo um extrato do suceder cósmico se processa no animal, e enquanto digere este experimenta as mais maravilhosas visões. O processo digestivo é o mais importante processo cognitivo no animal. E, ao digerir, este está entregue, de uma forma onírico-imaginativa, a todo o Cosmo. Tudo o que no adulto está localizado nos sentidos distribui-se, na criança, por todo o organismo. Inexiste, na criança, qualquer separação entre espírito, alma, corpo. Aprender a andar significa encontrar as direções espaciais do mundo e nelas engajar o próprio organismo em posição de equilíbrio. A criança é um ser sensorial imitativo. Tudo o que atua do exterior é reproduzido interiormente. A criança reproduz, pela imitação, tudo o que a circunda. E, nos primeiros anos de vida, tudo tem de ser aprendido por meio da imitação. Numa verdadeira educação, não se trata de simplesmente olhar para o momento presente da criança, mas de considerar toda a vida humana até à morte. Na idade infantil, se encontra o germe de toda a vida humana terrena. A criança, por ser um organismo sensorial extraordinariamente delicado, é sensível não somente às influências físicas de seu meio ambiente, mas principalmente às influências mentais. Por mais paradoxal que possa parecer à mentalidade materialista, a criança sente o que pensamos à sua volta. E é importante não somente que, como pais ou educadores, evitemos atitudes impróprias visíveis, mas que sejamos interiormente verdadeiros e permeados de moral em nossos pensamentos e sentimentos — os quais a criança sente e capta. A criança estrutura seu ser não somente de acordo com nossas palavras ou ações, mas segundo nossa atitude moral, nosso desempenho mental e afetivo. E para a primeira época da educação infantil até o sétimo ano, é sumamente importante o ambiente à sua volta. Tudo o que de anímico-espiritual exercemos sobre a criança chega a atuar nela em âmbito físico. As forças que produzimos perduram por toda a vida humana, não tendo sido corretas, manifestam-se em enfermidades físicas. Toda educação é, no caso da criança, educação física. Não se pode educar o aspecto físico em separado, pois toda educação anímico-espiritual na criança é fisicamente atuante. O elemento espiritual transforma-se totalmente em processo físico. Tudo o que fazemos espiritualmente à criança é também um treinamento físico. A fala provém de todo o organismo motor do ser humano. A maneira como a criança aprende a andar, a orientar-se no espaço, como aprende a converter os primeiros e indeterminados movimentos dos braços em gestos conseqüentes, relacionados com o mundo exterior, tudo isso se transporta para a organização da cabeça, manifestando-se na fala. O movimento exterior é transformado interiormente, na criança, em movimento da fala. A vida se manifesta primeiramente em gestos, e os gestos transformam-se interiormente no elemento motor da fala. A veracidade da fala é captada pelo organismo físico da criança. A criança assimila a linguagem de tal forma que nela se intensifica a inspiração e expiração. O fato de transformarmos de maneira correta, em sutis e íntimos processos vitais, o oxigênio em gás carbônico, depende de termos sido tratados sincera ou falsamente por nosso meio ambiente, durante o aprendizado da fala. Em seu inconsciente, a criança quer ouvir a autêntica linguagem do adulto. Muitos órgãos digestivos defeituosos na vida posterior devem-no a um errôneo aprendizado do falar. O pensar surge a partir da fala. Façamos predominar a clareza em nosso pensar ao redor da criança, para que ela possa extrair da fala um pensar correto. Provocar confusão pelo pensar em presença da criança é a verdadeira raiz do nervosismo.

criança

adulto

patologias

andar

amor

enfermidades metabólicas

falar

verdade

distúrbios digestivos

pensar

clareza

nervosismo

Tarefa do professor: o que a atuação espiritual representa para o organismo sensorial físico. E, como a educação da criança começa logo após o nascimento, todas as pessoas são educadores para a idade entre o nascimento e o sétimo ano de vida. Essa é, portanto, uma tarefa de toda a humanidade.

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