As três etapas do despertar da alma humana

Rudolf Steiner

Observar a vida anímico-espiritual na existência físico-corpórea.

A sequência adequada: andar, falar e pensar. Ela pode ocorrer de modo diferente, mas essa é a forma natural. O andar fornece as bases para o falar. O falar oferece as bases para o pensar. Um desencadeia o outro. Um surge a partir do outro.

A fala é movimento e equilíbrio humanos transformados. O ritmo da fala se expressa na forma como nossos pés pisam, no movimento do andar. É da fala que cresce o que eclode do ser humano sobre forma de pensar infantil. Os primeiros sons da fala não são aqueles que reproduzem o pensar; eles provêm do bem-estar ou do mal-estar físico-corpóreos.

Os pensamentos não são pensados e expressados abstratamente. Uma corrente viva de pensamentos flui de um lado para outro, de entidade para entidade. Forma-se uma relação viva com os Anjos. Aqui na Terra, temos a maneira de nos entendermos por intermédio do pensar devido à relação estabelecida com os Anjos, antes de nossa vida terrena.

O ser humano possui as forças da fala oriundas da relação que ele pôde desenvolver, na existência pré-terrena, com os Arcanjos, as entidades que regem os grupos étnicos.

Eu agradeço aos Arqueus por minha inserção na existência terrena, segundo forças físicas e morais que eles receberam de entidades ainda mais elevadas.

Os processos que ocorrem no corpo físico são uma espécie de combustão. A combustão no ser humano é diferente da que ocorre nos animais. Quando a chama do ser orgânico atua horizontalmente, ela destrói o que vem da consciência. No ser humano, a chama volitiva está situada verticalmente em relação ao solo e, por isso, é permeada pela consciência moral. O impacto do elemento moral, da consciência, faz com que a criança se coloque em posição vertical. O impacto do elemento moral traz o impulso da verticalidade. O ser humano, como ser volitivo, age conforme sua natureza ereta, vertical. Diferentemente de seres que têm a espinha dorsal paralela à superfície terrestre.

Quando o ser humano passa do estado de vigília ao estado de sono, andar, falar e pensar silenciam. Quando o pensar silencia, o ser humano se aproxima dos Anjos. Quando cessa a capacidade de falar, ele se aproxima dos Arcanjos. Quando está entregue a um repouso completo, ele se aproxima dos Arqueus.

A aproximação com os Anjos depende de como o pensar é configurado no período de vigília. A aproximação com os Arcanjos depende de como a fala é empregada. A aproximação com os Arqueus depende de como são utilizadas as capacidades de movimento e o senso moral.

Quanto mais existe idealismo no pensar (força), mais nos aproximamos dos Anjos durante o sono. Quanto mais existe materialismo no pensar (impotência), mais ficamos à mercê de seres elementais arimânicos. Logo após a criança ter aprendido a pensar, seu pensamento está repleto de espiritualidade. No sono, nós buscamos, por meio do idealismo, a espiritualização do mundo dos pensamentos.

Quanto mais existe benevolência no falar, mais nos aproximamos dos Arcanjos durante o sono. Convicção, boas intenções, perceber o outro, levar o outro em consideração, ter interesse pelo outro, harmonia. Quanto mais existe egoísmo no falar (anti-social), mais ficamos à mercê de seres elementais arimânicos.

Quanto mais existe a consciência de que o ser humano é uma entidade espiritual no fazer (amigável), mais nos aproximamos dos Arqueus durante o sono. Quanto mais existe a visão de ser humano como seres corpóreos, mais ficamos à mercê de seres elementais arimânicos, alienamo-nos da própria natureza humana.

Durante a vigília, temos de estruturar nossa relação com as pessoas segundo a fonte dos pensamentos, a fonte da fala e a fonte da ação. Durante nosso sono, estamos numa tríplice relação com o mundo espiritual: com os Anjos, com os Arcanjos e com os Arqueus.

Graças ao mundo espiritual, os seres humanos ainda têm herança de bons propósitos do pensar, falar e agir. É do sentimento de responsabilidade perante o mundo espiritual que advém o senso de responsabilidade perante o mundo físico.

O destino do ser humano é tecido conforme o idealismo presente em seus pensamentos, palavras e ações e conforme a proximidade que ele estabelece com as entidades superiores.

Para adquirir um olhar que abranja a vida terrena inteira, é necessário compreender que a vida pré-terrena e a vida terrena anterior continuam a produzir efeito. Nós aprendemos a ver o físico como um reflexo do que vive na criança em termos de impulso moral da vida terrena anterior. O grau mais elevado do destino se manifesta no processo do aprendizado do andar.

O destino pessoal depende da ligação que o ser humano tem com os Arqueus, Arcanjos e Anjos. Entidades da segunda hierarquia (Exusiai ,Dynamis e Kyriotetes) vertem no ser humano um destino mais distante, mais impessoal, que o insere em sua próxima vida numa língua específica, incorpora-o a determinada conexão com um povo.

Entidades da primeira hierarquia (Serafins, Querubins, Tronos) não proporcionam uma capacidade a ser concedida a uma comunidade humana única, e sim que é dada a todos os seres humanos: o pensar.

Para compreender toda a entidade humana, é necessário uma consciência permeada pelo conhecimento de sua ligação com o mundo espiritual.

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